Design com Privacidade: Como a UX ajuda a Proteção de Dados Pessoais

abril, 2024‎ ‎ ‎ |

‎Por Henrique Fabretti

Um famoso professor de direito da George Washington University, Daniel Solove, há algum tempo escreveu um artigo, igualmente famoso, sobre o ‘mito do paradoxo da privacidade’.

Em suma, ele dizia que era falsa a premissa de que as pessoas não se importavam de verdade com seus dados ao usar a internet e trazia uma série de argumentos que justificavam esta posição.  Baseados em pesquisas, ele demonstrou que, sim, as pessoas se preocupam em compartilhar seus dados e em como eles serão utilizados.

Porém, as pessoas tomam decisões sobre compartilhar seus dados baseados em fatores que não são tão óbvios:

·         Valor vs. Risco: As decisões dos indivíduos de compartilhar dados são baseadas na avaliação de risco em situações específicas, não no valor geral que eles atribuem à privacidade.

·         Contexto: As preocupações com a privacidade variam dependendo do contexto, tipo de dados e com quem seus dados são compartilhados.

·         Multidimensionalidade da Privacidade: A privacidade abrange mais do que apenas sigilo. Compartilhar dados não significa abrir mão de todos os direitos de privacidade, pois os indivíduos mantêm várias proteções, como segurança de dados e direitos de acesso.

Partindo destas premissas, diversos outros estudos conseguiram demonstrar que boa parte da percepção de privacidade dos indivíduos está relacionada a experiência do usuário (UX).

Sim, aquele ‘método’ que visa tornar interfaces digitais mais amigáveis e intuitivas podem ser os heróis da privacidade! Mas como?

Primeiro, precisamos entender que design para privacidade vai muito além de simplesmente resolver problemas. É preciso ir mais fundo, questionar o que entendemos por privacidade, imaginar novos futuros e, principalmente, colocar o usuário no centro da criação de soluções. Design participativo e sensível a valores são ferramentas poderosas para isso.

E aí a gente se depara com o famoso paradoxo da personalização-privacidade: queremos experiências personalizadas, mas também queremos proteger nossos dados. É aqui que o design de UX entra em ação, oferecendo transparência e controle para os usuários sobre suas informações. Imagine poder escolher o nível de personalização que você quer, sem medo de ter seus dados espalhados por aí?

E não se esqueça que cada pessoa é diferente. Tem gente que adora cupons de desconto, enquanto outros já tiveram experiências ruins com vazamento de dados e ficam mais receosos. O design de UX precisa levar isso em conta, criando soluções flexíveis e adaptáveis a diferentes perfis.

Educar o usuário sobre privacidade também é fundamental. Microinterações, dicas e tutoriais podem ajudar a explicar de forma clara e simples como os dados são utilizados. Assim, a gente fica mais consciente e pode tomar decisões informadas sobre o que compartilhar.

E claro, não podemos esquecer da transparência. As empresas precisam ser claras sobre como os dados são coletados, utilizados e protegidos. Mudanças nas políticas de privacidade devem ser comunicadas de forma direta e no momento certo.

Para garantir tudo isso, é essencial que equipes de UX, privacidade e conformidade trabalhem juntas. Afinal, a privacidade deve ser considerada em todas as etapas do desenvolvimento de um produto ou serviço.

Resumindo, a experiência do usuário é a chave para construir um mundo digital mais ético e confiável. Ao unir design de UX com privacidade, criamos produtos e serviços que não só são incríveis de usar, mas também respeitam nossos direitos e nos dão o controle sobre nossos dados. É assim que a gente constrói um futuro digital mais justo e inclusivo para todos.

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Henrique Fabretti

Com passagem por empresas como PwC, Deloitte, Lego e Walmart. Atualmente é sócio do Opice Blum Advogados à frente das áreas de proteção de dados pessoais e inteligência artificial.

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