Identificando e Evitando a Armadilha da Fábrica de Features em Sua Empresa

maio, 2024‎ ‎ ‎ |

‎Por Cadu Cunha

Em um ambiente de negócios orientado pela inovação tecnológica, muitas empresas caem na armadilha de se tornarem “fábricas de features”, um termo usado para descrever organizações que focam mais na quantidade de funcionalidades desenvolvidas do que no valor real que essas funcionalidades agregam aos usuários ou impactam o negócio de forma geral. Essa abordagem pode levar ao desperdício de recursos, à desconexão com as necessidades do cliente e, em última análise, a produtos que não trazem um impacto real no negócio. Identificar se sua empresa está caindo nessa armadilha e entender como evitar tais práticas são passos cruciais para garantir um desenvolvimento de produto que seja verdadeiramente alinhado com as necessidades dos clientes e os objetivos de longo prazo da empresa. Em outras palavras, o foco deveria ser sempre no OUTCOME (impacto esperado), ao invés do OUTPUT (desenvolvimento da feature).

Abaixo descrevo alguns sinais de alerta a serem observados e como evitá-los.

Sinais de uma Fábrica de Features

  1. Desenvolvimento Sem Medição de Impacto: Funcionalidades são constantemente desenvolvidas e lançadas sem uma avaliação adequada de seu impacto real no negócio. Isso indica uma abordagem focada mais na entrega da funcionalidade do que na descoberta e no aprendizado constante após o lançamento da funcionalidade
  1. Soluções Sem Fundamentação em Problemas Reais: Frequentemente, as equipes recebem tarefas e soluções predefinidas, em vez de serem encorajadas a explorar e entender profundamente os problemas dos clientes ou a melhor forma de resolver um problema da empresa.
  1. Roadmap Definido pela Liderança: Semelhante ao problema acima, temos os casos em que o roadmap de desenvolvimento são muitas vezes ditados pela alta liderança
  1. Falta de Conhecimento das Prioridades: Os desenvolvedores muitas vezes não têm clareza sobre as prioridades da equipe ou os motivos pelos quais certos projetos são priorizados, o que pode levar a uma desconexão entre o trabalho realizado e os objetivos estratégicos da empresa.
  1. Visão Futura Obscura: Se a equipe não tem uma compreensão clara de onde a empresa está indo ou como os projetos atuais contribuem para uma visão de longo prazo, isso pode indicar uma falta de direção estratégica e gerar desengajamento da equipe.
  1. Lançamento sem Iteração: Novas features são frequentemente lançadas sem planos subsequentes para revisão ou melhoria, movendo-se rapidamente para o próximo conjunto de funcionalidades, sem aprofundar na otimização do impacto das funcionalidades já desenvolvidas.
  1. Foco em Soluções de Curto Prazo: Há uma tendência a resolver problemas imediatos em detrimento da criação de valor de longo prazo para os clientes, o que pode comprometer a sustentabilidade do negócio.

Como Evitar Ser uma Fábrica de Features

  1. Desenvolvimento de uma Visão de Longo Prazo: Como o General Dwight Eisenhower disse, “preparando para a batalha descobri que o plano é inútil, mas o planejamento é indispensável”. Todo produto deve ter uma estratégia que ajude a entender qual é o problema de negócio a ser resolvido, através da resolução de um problema do cliente. Isso não significa que a estratégia é imutável, mas definir e comunicar uma visão de futuro do produto, quais são suas hipóteses e como chegar nessa visão, ajuda a orientar o ciclo de desenvolvimento e a manter a equipe motivada e alinhada com os objetivos de longo prazo. Importante lembrar de ter claro para o que o produto será otimizado e qual é o seu impacto na estratégia da empresa – exemplo, ele é um gerador de receita ou para melhorar engajamento? Uma estratégia bem definida ajudará você e a sua equipe a tomar decisões difíceis no futuro, como por exemplo, quando iterar ou descontinuar um produto
  1. Comunicação: Uma vez com a estratégia definida, garanta que todos os membros da equipe compreendam claramente a estratégia, suas prioridades e como seu trabalho contribui para os objetivos maiores. Quando todos estão na mesma página, as definições de priorização ficam mais simples e facilita as discussões de quais funcionalidades ajudam “a mexer o ponteiro” e, portanto, são de fato prioridade para o momento da empresa
  1. Entregue Problemas para o seu time, Não Soluções: Uri Levine, fundador do Waze, diz que devemos ser apaixonados pelo problema, não pela solução. No contexto desse artigo, o “problema” seria o impacto de negócio almejado – por exemplo, aumentar o engajamento dos clientes em X% – e a solução seria qualquer possível aposta de como resolver esse problema. Com isso, encoraje as equipes a identificar qual é a melhor forma de resolver um determinado problema. Esse processo exige um voto de confiança e, em até certo ponto, um nível de autonomia dos seus colaboradores. É uma mudança muitas vezes cultural, mas necessária para gerar mais “ownership” do time. Sendo assim, entenda quais são os gaps na sua equipe que impedem com que eles operem dessa maneira, para que isso possa ser uma realidade na sua empresa também.
  1. Foco em Medição e Aprendizado Rápido: Instrumentação é um processo crucial para garantir que aquilo que foi implementado está se comportando da forma que se era esperado. Garanta que o seu time tenha clareza de quais hipóteses eles estão validando e qual é o processo de interação necessário para atingir o resultado que foi pré-definido. Quanto mais rápido o processo de aprendizagem, maiores as chances da solução desenvolvida prosperar.

Evitar se tornar uma fábrica de features é essencial para empresas que desejam otimizar seus recursos para criar produtos que são diferenciados, principalmente no contexto atual de alta competição do mercado. Como mencionado, esse processo pode exigir uma mudança cultural na sua empresa, portanto é imprescindível que a liderança esteja ativamente envolvida a abraçar esse processo. Ao desenvolver uma estratégia de longo prazo, garantir uma comunicação eficaz na empresa, dar espaço para o seu time resolver os problemas e iterar rápido, seu processo de desenvolvimento de software tende a ser mais eficiente e com maior foco em impacto.

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Carlos Eduardo Cunha

Carreira desenvolvida no mercado de Fintechs nas áreas de Produtos, Estratégia, Marketing de Produto e Novos Negócios. Atuo hoje como líder de produtos e expansão regional na América Latina na Volt.io, maior rede de cobertura global de pagamentos instantâneos.

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